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Foto do escritorVinicius Gambeta

Oracle fecha acordo com o TikTok pelas operações nos EUA, mas muitas dúvidas permanecem

Ontem, domingo, a Microsoft confirmou oficialmente que estava fora da disputa pelo TikTok, com um breve comunicado em seu blog: “A ByteDance nos informou hoje que não venderia as operações do TikTok nos EUA para a Microsoft. Estamos confiantes de que nossa proposta teria sido boa para os usuários do TikTok, ao mesmo tempo que protegia os interesses da segurança nacional.”

Poucas horas depois, foi divulgado que a Oracle assumirá a administração das operações do aplicativo nos EUA. Conforme relatado pelo The Wall Street Journal: “A Oracle venceu a disputa para as operações dos EUA do aplicativo de compartilhamento de vídeo TikTok, disse uma pessoa familiarizada com o assunto. […] A Oracle deve ser anunciada como o ‘parceiro de tecnologia confiável’ do TikTok nos EUA, e o negócio provavelmente não será estruturado como uma venda direta, disse a pessoa“. O secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, confirmou o acordo e disse que ele seria apresentado ao presidente Trump com uma recomendação no final desta semana.

Sobre a Oracle: seu cofundador e atual presidente é Larry Ellison. A empresa vende tecnologia de banco de dados e sistemas em nuvem para empresas – foi uma das primeiras a ajudar clientes a estruturar seus registros dessa maneira. Seus primeiros clientes incluem a CIA, Inteligência da Marinha, Inteligência da Força Aérea e Agência de Segurança Nacional. Mas seus clientes e serviços baseados em nuvem agora se estendem muito mais longe, atendendo a fabricantes de automóveis, incluindo Mazda e Yamaha, a varejistas como as redes Co-op e Debenhams do Reino Unido.

Várias questões ainda precisam ser explicadas, mas a primeira que está causando estranheza entre vários especialistas é, justamente, o fato desse acordo não ser uma venda. Há meses o governo dos Estados Unidos vem insistindo para que o TikTok separe suas operações da China, e agora nos deparamos com o status de “parceiro de tecnologia confiável” da Oracle, sobre o qual não se sabe muito, mas é improvável que a Oracle esteja assumindo qualquer operação significativa dos escritórios da TikTok nos Estados Unidos – e isso só resolve uma parte das preocupações de segurança nacional.

Russell Brandom, para o The Verge, levanta alguns pontos sobre o quê significaria a Oracle assumir a “hospedagem” do TikTok nos Estados Unidos: A China não poderá desviar dados do usuário diretamente – mas provavelmente não poderia antes, já que a sede do aplicativo é nos Estados Unidos. A Oracle pode incluir algumas auditorias de código – mas se houver mesmo má intensão, a ByteDance, como autora dos códigos, conseguiria contrabandear algum malware de rastreamento. Na análise de Brandom a Oracle não vai reescrever o algoritmo TikTok ou lidar com a moderação, então a ByteDance ainda conseguirá exibir propaganda chinesa ou censurar mensagens embaraçosas. A Oracle será um contratante em vez de uma subsidiária, mas não está claro se isso os tornará menos vulneráveis ​​a pressões ou subterfúgios.

A versão da Microsoft do acordo sugere que teriam separado a parte americana do TikTok da Ásia por completo, mas a versão da Oracle o deixa praticamente intacto, o que faz com que o negócio pareça suspeito. “Um acordo em que a Oracle assume a hospedagem sem código-fonte e mudanças operacionais significativas não resolveria nenhuma das preocupações legítimas sobre o TikTok”, disse o ex-chefe de segurança do Facebook Alex Stamos no Twitter, “e a aceitação de tal acordo pela Casa Branca demonstraria que esse exercício foi puro blefe”.

Além disso, ainda existem outras incertezas sobre como o acordo com a Oracle obterá a aprovação de Pequim – duas semanas atrás o governo chinês atualizou um conjunto de regras comerciais que poderiam bloquear a exportação de tecnologias de inteligência artificial, como as usadas para personalizar os feeds do usuário do TikTok. A revisão foi vista como um movimento para complicar a venda do TikTok, e a ByteDance disse que iria “cumprir estritamente” a lei. No fim de semana, a Reuters relatou que Pequim prefere ver a TikTok fechar nos EUA, em vez de seguir a ordem de venda de Washington, que “faria com que ByteDance e China parecessem fracos diante da pressão de Washington“.

Se nada mudar, a transação ainda pode acontecer, mas pode deixar de fora os algoritmos do TikTok que são de propriedade da ByteDance em Pequim, disse uma fonte ao South China Morning Post. Isso significa que as operações do TikTok nos Estados Unidos, ou futuro proprietário, teriam que reescrever os próprios códigos que impulsionaram o aplicativo para o sucesso atual.

De qualquer forma, está claro que essa discussão toda é maior do que TikTok x Trump, mas para essa “novela”, apesar do fim parecer um pouco anticlimático, ele poderia ter sido pior – o TikTok enfrentou o risco real de ser fechado nos EUA, o que parece improvável de acontecer agora (o Tesouro estava preparado para bloquear as transações dos EUA para a ByteDance a partir de 20 de setembro). O TikTok continuará operando nos Estados Unidos – os 1.400 funcionários e mais de 100 milhões de usuários nos EUA devem estar respirando aliviados no momento.

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